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Vivências da primeira semana de regência


Educar é impregnar de sentido o que fazemos a cada instante!
Paulo Freire


A profissão docente sempre me cativou. Desde quando comecei a compreender mais a respeito das coisas a minha volta, me percebia por vezes observando os professores das escolas nas quais estudei. Sempre tive boa relação com eles, admirava-os e imitava-os. Durante meus anos de escolaridade, sempre me coloquei a disposição para ajudar os colegas que tinham dificuldade em apreender o conteúdo, eu me sentia muito bem nessa posição, adorava ensinar e perceber que eles estavam aprendendo. Motivada pelo fascínio de ensinar, optei pela profissão docente.
O estágio docente tem sido um momento imprescindível para a minha formação enquanto professora, pois tem me proporcionado uma aproximação à realidade na qual atuarei futuramente. Colocando-me a frente de dilemas, desafios e novas possibilidades.
Estou desenvolvendo a prática do estágio supervisionado em Anos Iniciais do Ensino Fundamental na Escola Municipal Vilma Brito Sarmento, em uma turma de 1° Ano do Ensino Fundamental I da professora regente Rosely. A turma é composta por 26 alunos, com idade entre 6 e 7 anos, os alunos possuem diferentes níveis de aprendizagem. 
A primeira semana de regência foi marcada por medo, angústia e apreensão, tendo em vista que Ensino Fundamental é um campo de atuação novo para mim e portanto, eu não conseguia prever como se desenrolaria o processo. Durante esse período, percebi que ofício do professor alfabetizador é difícil e complexo, tendo em vista que eu tinha que estar preparada atender diversas demandas ao  mesmo tempo, como por exemplo explicar as atividades, prender a atenção de todos os alunos, chamar a atenção de outros educandos que se dispersavam frequentemente, resolver  pequenos conflitos, contemplar todos os alunos na hora de chamar ao quadro negro, decidir qual o momento certo de irem ou não beber água e irem ao banheiro, pensar em atividades extras para evitar que os alunos ficassem ociosos, dentre outras coisas.
Durante toda a primeira semana de regência teci algumas reflexões acerca da minha postura enquanto mediadora do conhecimento. Pois a maneira como nos dirigimos aos alunos, pode influenciar diretamente na maneira como elas enxergam a si mesmos. Diante disso, tentei a todo momento adotar uma postura pautada no diálogo e na interação com as crianças, buscando abandonar práticas autoritárias. Entretanto, em muitos momentos, me enxerguei me dirigindo aos alunos de maneira ríspida, com intuito de alcançar a harmonia da sala de aula. Considero que a gestão de classe foi o maior  desafio para mim durante esse período. Manter um ambiente propício à aprendizagem de todos é complicado. A indisciplina de alguns alunos acaba comprometendo o trabalho do professor, por isso é importante que haja a formação de regras para o ordenamento das crianças no âmbito escolar. Dessa maneira, surgiu em mim o dilema da autoridade x autoritarismo. Como administrar a turma de maneira que reconhecessem a minha autoridade sem que eu precisasse recorrer a estratégias autoritárias? Esse é um impasse que ainda me angustia. Diante disso, teci reflexões em concordância com a perspectiva de Freinet, quando ele afirma que só se pode educar dentro da dignidade, respeitar as crianças, devendo estas respeitar os seus professores, é uma das primeiras condições da renovação da escola.(Araújo; Araújo, 2007, p.181). 

      Para desenvolver o trabalho de alfabetização na turma do estágio supervisionado, adotamos o método sociolinguístico, desenvolvido por Onaide Mendonça e Olympio Mendonça. Sinto-me muito segura em trabalhar com este método, pois compreendo este é um dos mais adequados para desenvolver o processo de alfabetização, tendo em vista que leva em consideração o contexto  socio-cultural dos educandos, trabalha com o diálogo e senso crítico dos alunos por meio das sequências didáticas, fundamentadas na filosofia do conhecimento de Paulo Freire. Além de adequar as atividades ao nível de aquisição da leitura e escrita que cada criança está, a partir da teoria da Psicogênese da língua escrita por Emília Ferreiro e Ana Teberosky (1974).  Dessa maneira, fica evidente a importância da adoção de um método de alfabetização que valorize o contexto sócio-histórico do aluno, visto que antes de adentrar o universo escolar, este já traz consigo conhecimentos sobre a língua falada e escrita, de maneira que não apenas aprenda a “codificar” e “decodificar” o sistema de escrita alfabético da Língua Portuguesa, mas que saiba como utilizá-lo em seu cotidiano. (ALBUQUERQUE, 2007, p. 21). Dessa maneira, compreendo que o Método Sociolinguístico tem importância para a formação das crianças, pois é um método consistente que consegue unir um ensino sistemático de acordo com os níveis de aprendizagem da criança com a capacidade dela de pensar e contextualizar o conhecimento com a sua realidade. 



     O estágio tem proporcionado possibilidades para a construção da minha identidade pessoal e profissional, trazendo-me críticas e reflexões acerca da minha prática docente, permitindo que eu enxergue a realidade do contexto escolar de maneira consciente. Dessa forma, tenho aprendido que é necessário enxergar além do aparente,  transcender olhares, questionar, participar, transformar e se transformar num processo contínuo de ação-reflexão-ação.
      

Comentários

  1. Rafaela,

    Lendo seu blog, percebo a importância desse trabalho que estamos fazendo de reflexão sobre a prática. Você descreve com competência suas primeiras aproximações na escola pública, apresenta seus dilemas ( normais na iniciação á docência) e vai ao longo da narrativa mostrando seus etnométodos. Gostaria apenas que você tentasse responder a seguinte questão nas outras postagens: Como venho aprendendo a ser professora?

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